terça-feira, 2 de junho de 2009

EDUCAÇÃO MIDIÁTICA OU O AUDIOVISUAL COMO RECURSO DIDÁTICO NO PROJOVEM


José Wellington de Oliveira Machado
(Facilitador de Arte/cultura)

"O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Nos atingem por todos os sentidos e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no imaginário) em outros tempos e espaços. O vídeo combina a comunicação sensorial-cinestésica com a audiovisual; a intuição com a lógica; a emoção com a razão" (MORAN, 1995)

INTRODUÇÃO


Como qualquer outra forma de linguagem, o audiovisual produz beleza e pode ajudar-nos a visualizar inúmeros aspectos da nossa vida. Mas, como todas as outras artes ele produz idéias e, além de movimentar bilhões de dólares, ajuda a formar gostos, a criar ritmos, valores éticos, políticos e estéticos. O cinema e a televisão, por exemplo, se transformaram nos mais fantásticos criadores de ilusões, cuja “impressão de realidade”, segundo Bernardet, se presta á dominação ideológica e comercial (BERNARDET, 2000).

CULTURA AUDIO-VISUAL:
É PRECISO APRENDER A LER



A educação não se faz apenas na escola, ela acontece em todos os locais e a toda hora. Segundo Eugênio Bucci (professor de ética jornalística), educar seria “conduzir para fora”, “levar para o mundo” ou, numa adaptação mais livre, preparar para o mundo. Como a educação acontece dentro e fora da escola, os nossos estudantes passam poucas horas como discentes e no restante do tempo são educados pela sociedade e pela televisão que, muitas vezes, vão de encontro as mais elevadas utopias educacionais (BUCCI, 2003)

A educação formal (aquela da escola) é uma das grandes preocupações dos pais que jogam os filhos nos bancos escolares para que aprendam desde cedo a ler e a escrever. Mas, como sabemos, mesmo depois que aprendem a juntar as letras muitas crianças sentem dificuldade de entender o significado das palavras. Muitas crescem, passam de ano e se tornam “analfabetos letrados”. Sabem ler, mas não entendem, portanto, num sentido mais amplo, não sabem ler.

Ainda na escola aprendem que a linguagem vai além da escrita e da fala, mas na prática só aprendem a juntar as sílabas e ainda sentem dificuldade de analisar o conjunto das frases. Na escola, estão os professores, engajados na missão de ensinar seus discentes a interpretar os textos de forma crítica e, muitas vezes, passam filmes, músicas e outras linguagens sem fazer a mesma reflexão. Não refletem sobre a produção das artes e desconsideram as ideologias que existem por trás delas.

No entanto, apesar desses casos, não podemos esquecer que os alunos passam horas sentados em frente as televisões, aos vídeos e aos DVDs assistindo “programas (des)educativos”. Muitas vezes nos preocupamos com a formação dos alunos e reclamamos, com razão, que eles estão mo ensino fundamental ou médio e ainda não sabem interpretar textos. Mas não percebemos que desde crianças, estes mesmos adolescentes, antes de irem para a escola, para o PETI ou para PROJOVEM, passaram horas, dias, meses e até anos assistindo novelas, filmes e desenhos animados. Repetimos constantemente que a escola não estar conseguindo “ensinar” as crianças a ler letras e não questionamos estas mesmas escolas quando se negam a “ensinar” de forma crítica a leitura das imagens e dos sons.

Como lembra Bucci (2003), a televisão, no Brasil, praticamente monopoliza a apresentação da criança para o mundo (do consumo) e vice-versa. Ela inicia o público infantil na socialização. Antes mesmo de conhecer a escola ou ser iniciado na catequese, a criança já é socializada pela cultura do consumo e mais ou menos vacinada contra a educação que procura cultivar os valores éticos próprios de um projeto de democracia e de cidadania.


É PRECISO DISCUTIR ESSA LINGUAGEM



No campo da “cultura visual” existe um grupo de pesquisadores que propõe que as atividades ligadas à Arte passem a ir além de pinturas e esculturas, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, moda, arquitetura e tantas representações visuais quantas o homem é capaz de produzir. Se ampliarmos este campo de estudo e trabalharmos com o som ao lado das imagens teremos uma cultura audiovisual que ainda passa despercebida na maioria das escolas e dos projetos educacionais. Essa “alfabetização audiovisual”, parafraseando um trecho do artigo, ajuda os alunos a conhecer melhor a sociedade em que vive, a interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos (GENTILI, 2003).

Como lembra Moran (1995), O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, do que toca todos os sentidos. Mexe com o corpo, com a pele, nos toca e "tocamos" os outros, estão ao nosso alcance através dos recortes visuais, do close, do som estéreo envolvente. Pelo vídeo sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos. A televisão e o cinema transformaram-se em fábricas de fazer sonhos e, em pleno século XXI, possuem tanto poder quanto qualquer político de carreira. Enquanto os donos das grandes televisões ganham dinheiro e “ditam” valores, os adolescentes – a sua maneira – resignificam o glamour televisivo e, no dia seguinte, levam para a sala de aula.

Ainda na escola aprendemos que lê textos (escritos) não significa apenas juntar letras e sílabas, da mesma forma lê imagens e sons não significa apenas ver muito filme ou assistir televisão compulsivamente. De uma forma ou de outra, os jovens precisam descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem. “O professor tem de despertar o olhar curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às representações do universo visual”, afirma Fernando Hernandes, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha (GENTILI, 2003).

Se pensarmos o audiovisual como um projeto trans-disciplinar, podemos discutir essa linguagem através de diversos caminhos (eixos temáticos). Partindo do universo cognitivo dos jovens, podemos explorar os conhecimentos que eles adquiriram fora da escola e problematizar, através de exemplos concretos, a televisão e o cinema. No entanto, para não homogeneizar o audiovisual e falar apenas da Globo ou de Hollywood é necessário conhecer outras produções para perceber que tanto a televisão como o cinema são feitos de muitas maneiras e, portanto, não existe um único objetivo.

Para além das “belíssimas” produções da Globo Filmes ou do cinema americano, existe audiovisual em outras partes da América do Sul, na Europa, na Ásia e na África. Não podemos negar que a maquinaria do cinema foi criada pela burguesia, mas para além da classe social a linguagem audiovisual é uma arte que em muitos aspectos não se limita a ordem e ao poder. O cinema e a televisão, diferente do que querem os grandes empresários, não possuem uma lógica universal, nunca uma máquina tem uma significação em si, ela sempre significa o que a fazem significar (BERNARDET, 2000).

Com o discurso da globalização construiu-se uma propaganda que vislumbra um mundo homogêneo e, com emissoras em tempo real as empresas de televisão criaram estereótipos e, muitas vezes, agiram de forma violenta contra a diversidade de culturas que existe no mundo. De forma análoga, o cinema norte-americano se espalhou pelo mundo e, assim como os impérios do século XIX, produziu um universo cultural que serviu para expressar seu triunfo. Através de imagens e sons as industrias cinematográficas criaram estratégias que são repassadas para as sociedades, num processo de dominação cultural, ideológica e estética (BERNARDET, 2000).

Mas apesar do alcance dessas empresas e do poder econômico e cultural que elas tem na maior parte do mundo, não podemos reproduzir o discurso da homogeneização e pensar todas as sociedades humanas sobre o prisma dos noticiários e filmes ocidentais. Como mostra Bernardet, a História do cinema é em grande parte a luta constante para manter ocultos os aspectos artificiais do cinema e para sustentar a impressão de realidade. O cinema, como toda área cultural, é um campo de luta, e a história do cinema é também o esforço constante para denunciar este ocultamento e fazer aparecer quem fala (BERNARDET, 2000).

Como dissemos antes, o audiovisual é uma produção e como tal precisa ser analisado dentro de seus “sets”, como algo manipulado por dezenas de pessoas para se transformar num “produto” com as características que vemos na tela. O vídeo explora... o ver, o visualizar, o ter diante de nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais (próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno, equilíbrio-desequilíbrio). Desenvolve um ver entrecortado -com múltiplos recortes da realidade - através dos planos- e muitos ritmos visuais: imagens estáticas e dinâmicas, câmera fixa ou em movimento, uma ou várias câmeras, personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas ou criadas no computador (MORAN, 1995).

Portanto, na medida em que o facilitador cultural leva um vídeo para o PROJOVEM ele deve conhecer o filme e saber a importância didática que aquele recurso tem para o seu plano de aula. Mesmo que o filme tenha duas horas ele ainda não traduz a realidade e mesmo que seja um documentário ele possui diversos recortes que fazem do filme uma verdade inventada. Hoje, no mundo inteiro existem pequenos cineastas que através de editais ou por conta própria realizam curta-metragens e fazem críticas as políticas ligadas ao audiovisual. Embora também produzam verdades cinematográficas eles tem a clareza de que são criadores de ilusões, são uma espécie de mágicos que usam tecnologia para fazer o povo sonhar. Reconhecem a diversidade de imagens e sons produzidos no mundo e, a partir disto, buscam divulgar estes trabalhos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


- BERNARDET, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2000.

- BUCCI, Eugênio. A deseducação educativa. In: Revista Nova Escola (De olho na televisão), Editora Abril, Dezembro de 2003. p.8

- GENTILI, Paolo. Um mundo de imagens para ler. In: Revista Nova Escola, Editora Abril, Abril de 2003.

- MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Artigo publicado na revista Comunicação & Educação. São Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995.


CINE-PROJOVEM 2009


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